Gosto se discute?

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A frase “gosto não se discute” é parte do repertório do senso comum. Para pôr fim a qualquer debate acalorado, essa frase é muito utilizada. Mas será que ela está certa?

Hume, no ensaio Do Padrão do Gosto, trata da razão pela qual um pronunciamento crítico predomina sobre outro. Por exemplo, um torcedor de um determinado time de futebol assiste a um gol desse time, feito com técnica, equilíbrio e atletismo, e o considera “bonito”. Se o adversário fizer um gol de mérito comparável, é improvável que isso provoque a mesma reação. Isso acontece porque o primeiro julgamento é determinado pelo sentimento, sendo, portanto, tendencioso. Os vereditos baseados no sentimento são privados de qualquer valor de verdade discernível, sendo assim, “absurdos e ridículos”.

Hume cita uma história do Dom Quixote, de Cervantes. Na história, Sancho Pança fala de dois homens provando o vinho de um barril. O primeiro homem prova o vinho com a ponta da língua e concorda que é de boa qualidade, mas que tem um leve toque de ferro. O segundo homem cheira o vinho, concorda que é de boa safra, mas que tem um leve toque de couro em seu buquê. Alguns observadores ridicularizam os dois homens, acusando-os de fazer falsas críticas. Mas, quando o vinho acaba, uma chave enferrujada e uma tira de couro são encontradas no fundo do barril. Hume usa essa história para afirmar que gosto é uma questão de refinamento e que precisa ser praticado da maneira mais imparcial possível. “Só um senso forte, unido a um sentimento delicado, aprimorado pela prática, aperfeiçoado pela comparação e despido de todo preconceito, pode dar aos críticos o direito a esse caráter valoroso”.

Outro pensador que fala sobre o gosto é Kant. Ele defende que gosto se discute sim. Para ele, é possível discutir o gosto porque uma discussão é diferente de uma disputa. Filosoficamente, a disputa nada mais é do que uma batalha de argumentos que exigem demonstrações, a fim de que uma ideia prevaleça. Já uma discussão é um processo de lapidação das opiniões, cuja finalidade é chegar a um acordo entre as partes. Em relação ao belo, não há disputa, mas discussão.

Segundo Kant, a experiência estética é compartilhável e a beleza é uma ideia universal da razão. Seu conteúdo e sua forma podem variar segundo circunstâncias históricas e segundo a subjetividade dos artistas, mas o sentimento de belo, fundamento do juízo de gosto, é universal. O julgamento sobre o belo, próprio de cada um, subjetivo e particular, é, ao mesmo tempo, um julgamento universal e objetivo. O belo é a universalidade não conceitual, a finalidade sem fim, a satisfação desinteressada: é o que agrada desinteressadamente, como, por exemplo, contemplar uma paisagem natural sem querer plantar nela. O belo chega até nós pela imaginação, causando uma sensação de prazer e harmonia; todo interesse corrompe o juízo do gosto e toda satisfação ou emoção o prejudica. O belo basta-se a si mesmo.

Muitos outros pensadores, além de Hume e Kant, se preocuparam com a questão do gosto. E você, o que pensa sobre o gosto? Concorda com Hume ou Kant?

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