Quando eu tinha 12 anos fui morar com meus avós maternos. Passei as férias de verão na casa deles e quando elas terminaram, voltei para a casa dos meus pais. Não deu certo. Minha vó passava os dias chorando de saudades. Aí voltei pra ficar mais uma semana. E essa semana durou 3 anos. Sem querer, tornei minha infância especial. Pude conviver com meu avô e minha avó durante três anos. Lembro que valorizei muito isso na época, pois sabia que eles não viveriam pra sempre e que eu viveria por muito tempo depois da morte deles. Acabei aproveitando ao máximo esses anos. Lembro de um dia chuvoso que passamos ao lado do fogão, conversando, comendo e rindo. Sinto muita falta deles.
Quando eu tinha 18 anos, morei no Santuário de Caravaggio. Fiz um ano de propedêutico. Propedêutico é o período intermediário entre Ensino Médio e Faculdade. Morei com 15 colegas. E foi muito massa. Era um ano que a gente tinha compromissos, mas não com escola ou faculdade. E isso é raro na minha vida, pois desde o pré até hoje, esse foi o único ano que não vivi dentro de uma sala de aula. Além de toda programação do seminário, a gente tinha muito tempo livre. Lembro de uma noite que assistimos um filme e antes de dormir alguém sugeriu fazer espaguete à carbonara. O problema era que faltava tudo. Saímos de madrugada em busca de salame (pra substituir o bacon) e conseguimos encontrá-lo na mãe de um seminarista que morava próximo ao seminário. Voltamos, preparamos e espaguete, comemos, rimos muito e fomos dormir quase ao amanhecer. Mas logo tivemos que acordar, porque 6h30 era o horário da missa.
Quando eu tinha 35 anos, passei um final de semana na chácara da família da minha namorada. Era dezembro e, portanto, os dias estavam quentes. Passamos o dia na piscina e ao anoitecer começamos a jogar cartas e comer salgados. Estávamos em muitas pessoas: a família da minha namorada e alguns amigos da família. A vó Lala sugeriu jogarmos poker valendo dinheiro. Jogamos muito e até o final do jogo, eu estava ganhando, mas na última jogada, ela tirou tudo o que eu tinha. Achei que ela estava blefando, mas não estava. Após, continuamos jogando, mas sem ser por dinheiro e sim por uma peça de roupa. Cada partida perdida era uma peça a menos. Adivinhem? No final, estávamos nós dois nos enfrentando novamente, mas eu estava apenas de cueca e ela estava com roupa e cheia de pulseiras num dos braços. E eu perdi. Bom, vocês já sabem o que aconteceu. Rimos muito com toda situação.
Esses são apenas três momentos da minha vida. Três fotos. Três capítulos. Não espere que tenhamos muitos momentos. São poucos. E quase sempre são simples. A felicidade reside na simplicidade e no encontro. Não preciso ter dinheiro para ser feliz. Preciso ter amigos. E preciso viver e aproveitar os momentos com eles, pois são esses os momentos que iremos guardar na memória de dias esquecidos.