Sempre fui fascinado pelo seguinte fato: por que estou neste corpo? Será que ele é um cárcere da alma, como disse Platão? Por que o meu “eu”, a minha mente, que está pensando agora, está neste corpo e nesta época? Será que as demais mentes que não são o meu “eu” pensam isso também? Essas mentes existem ou somente a minha mente existe? A seguir, vou compartilhar alguns ensinamentos presentes na obra Filosofia para quem não é filósofo, de Renold Blank.
Há dois conceitos trabalhados por filósofos que traduzem um pouco isso que me atormenta (num bom sentido) desde a minha infância: qualia (qualidade) e intencionalidade.
A palavra qualia é utilizada para se referir a “experiência sensoriais imediatas”. Por exemplo, se chuto uma pedra e machuco uma unha, a qualia é a qualidade dolorosa de uma dor. Ou se vejo um tomate vermelho, a qualia é a tonalidade de uma cor, como a vermelhidão do vermelho.
Mas, nossa mente pode ter muitas crenças gerais que não envolvem nenhuma experiência em particular, sendo estados mentais que versam sobre alguma coisa. Aqui estamos falando de intencionalidade, que é a capacidade de pensar sobre as coisas, ou seja, os “estados mentais a respeito das coisas”.
Nossa mente tem experiências cruas (qualia) e pensamentos com conteúdo (intencionalidade). É por meio destas duas atividades que representamos o mundo exterior, que percebemos e compreendemos o mundo a nossa volta. Ou você acha que o mundo que você percebe é idêntico do mundo que as demais pessoas percebem?
Voltando ao assunto inicial, será que eu sou a única mente, o único sujeito consciente e todas as outras pessoas não são conscientes, sendo meros “zumbis”? Sendo a mente algo particular, não é possível provar que há outras mentes. Mas aceitando a existência de outras mentes, o problema que surge é o seguinte: a experiência delas são como as nossas?
Você e eu podemos vivenciar experiências de modo totalmente diferente.
Se colocarmos uma colher de sal na boca ou se olharmos para um tomate, usamos palavras como “salgado” para nos referir ao sal e “vermelho” para nos referir ao tomate. Até aqui tudo bem, pois usamos palavras para expressar nossas experiências.
Mas a minha experiência particular pode ser diferente: o sal pode me parecer doce e o tomate azul. Quem nos garante que as nossas experiências são as mesmas?
Referência Bibliográfica
Filosofia para quem não é filósofo, de Renold Blank