Ser estoico não significa ser passivo, mas ser resistente

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Um princípio básico do Estoicismo de Epicteto é saber diferenciar o que podemos controlar (nosso estado mental: desejos e aversões, impulsos e opiniões) daquilo que não podemos (as coisas externas). Como ele diz na obra Manual: entre as coisas que existem, há aquelas subordinadas a nós e as não subordinadas a nós. As subordinadas a nós são o pensamento, o impulso, o desejo, o evitar e, em síntese, todas as operações que executamos (todos esses aspectos são características internas nossas); as não subordinadas a nós são o corpo, os bens, a reputação, os cargos e, em síntese, tudo aquilo que não são operações que executamos.

Epicteto julga as coisas não subordinadas a nós como frágeis, externas e dignas de um escravo. Seguindo esse raciocínio, nós não controlamos os eventos externos, a sorte, o carma, as outras pessoas, o mundo. Entretanto, tais coisas dizem respeito a algo que está verdadeiramente sobre nosso controle: o pensamento. Continua Epicteto: some-se a isso que as que estão subordinadas a nós são naturalmente livres, desimpedidas, sem obstáculos, ao passo que as que não estão subordinadas a nós são frágeis, servis, sujeitas a impedimentos, estranhas.

O grande problema é que muitas pessoas entenderam esse princípio de maneira errada, achando que ele significa uma passividade diante das coisas externas. As coisas externas são aquelas que não dependem totalmente de você, mas que você pode manejar de alguma forma, lidar da melhor maneira possível.

O estoicismo não é uma filosofia de passividade, mas de resistência. Diante do mundo atribulado, o estoico constrói em sua mente uma cidade de refúgio, onde só ele tem o controle. E, estando com sua mente protegida, ele age como cidadão do cosmos, para o bem de todos. Procuramos refúgio, por exemplo, nas casas de campo, mas os problemas vão junto conosco. Como disse Sêneca: não é mudar os ares, mas mudar o ânimo. Não é fugir dos problemas, mas aprender a lidar com eles. Sêneca nos propõe o seguinte raciocínio: você trocaria a sua vida pela vida de outra pessoa? A resposta a isso vai nos apresentar a qualidade de nossa vida. Não basta que a nossa vida tenha uma longa duração, mas que o nosso tempo seja cheio de vida de acordo com nossas circunstâncias.

Um exemplo prático disso tudo dado por Epicteto em sua obra Manual é o seguinte: quando te dispões a realizar alguma ação, recorda-te de qual é a natureza dessa ação. Se estás saindo para tomar um banho, antecipa mentalmente o que acontece numa sala de banhos (aqui a referência é aos banhos públicos), ou seja, indivíduos que jogam água em ti, indivíduos que esbarram em ti, indivíduos que te insultam, indivíduos que te roubam (em outras palavras, ser pessimista e esperar que as coisas deem errado). Com efeito, por via de consequência se durante o banho acontecer de te veres diante de algum obstáculo, estarás pronto para dizer: “Todavia eu não queria somente isso, mas também conservar minha vontade em harmonia com a natureza; mas não a conservaria se me aborrecesse com os acontecimentos”. Ao visualizar possíveis cenários você consegue lidar melhor com situações de adversidade e obstáculos, pois você já estava preparado de antemão.

Referência Bibliográfica

EPICTETO. Manual de Epicteto: a arte de viver melhor. Trad.: Edson Bini. 1 ed. São Paulo: Edipro, 2021.

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“Oh, filosofia, guia da vida! Oh, tu que persegues a virtude e escorraças os vícios! O que seríamos, nós e todas as eras dos homens, sem ti?”
Cícero