O ateísmo na Filosofia

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Ateísmo (a-theos = sem Deus) significa a negação de Deus; por isso, “ateu é quem afirma que Deus não existe”. A negação de Deus não é um fenômeno raro na história da humanidade. Tanto Platão como Fílon denunciam o ateísmo, que atinge sobretudo a juventude, e o condenam como “um mal gravíssimo”. No entanto, como fenômeno cultural de massa, o ateísmo é típico da época moderna e precisamente daquele período histórico em que o homem moderno, através de um longo processo de secularização, depois de progressivamente ter excluído Deus de muitas atividades e aspectos da vida humana, afinal chegou à conclusão de que Deus não existe, de que “Deus morreu”.

O advento do ateísmo coincide com a retração do idealismo e a sua transformação em materialismo (histórico e dialético). O autor dessa reviravolta histórica foi Feuerbach. Logo, porém, outros filósofos do séc. XIX alinharam-se com ele (Marx, Engels, Comte, Schopenhauer, Nietzsche e outros), e mais tarde aderiram ao credo ateu muitos pensadores do séc. XX (Freud, Carnap, Sartre, Camus, Russell, Ayer, Lenin, Marcuse, Adorno, Horkheimer, Bloch e outros).

O conceito de ateísmo, dado que se trata de um termo negativo, deve ser definido em relação a Deus. Para que haja o ateísmo é necessário, como diz Étienne Gilson, que na negação de Deus esteja incluída também a negação dos seguintes elementos:

1) Deus deve ser um ser transcendente, isto é, um ser que existe independentemente de mim e do mundo;

2) deve ser também um ser necessário, e que depois de ter sido encontrado não seja preciso buscar sua causa;

3) deve ser a causa de tudo o mais.

É, pois, a negação tanto da existência de Deus quanto daqueles atributos (inteligência, vontade, livre criação do universo, providência) que permitem ao homem assumir, em relação a Deus, uma atitude de respeito, devoção e adoração.

O ateísmo pode assumir várias formas. As principais são três: ESPECULATIVA, PRÁTICA, MILITANTE.

O ATEÍSMO ESPECULATIVO, teorético ou filosófico é uma cosmovisão (um sistema filosófico) que exclui a realidade de Deus. Por exemplo:

1) ao ateísmo teorético explícito pertencem os de Nietzsche, Freud, Sartre, Russell, Bloch;

2) ao ateísmo teorético implícito pertencem todos os sistemas ligados ao materialismo e ao historicismo, ao positivismo e ao evolucionismo, ao vitalismo e ao existencialismo;

3) o ateísmo teorético negativo limita-se a negar a realidade de Deus;

4) o ateísmo teorético positivo reivindica para o homem os poderes e os atributos que alienara de si ao criar a figura de Deus;

5) o ateísmo niilista mergulha o homem no nada: depois de ter destruído Deus, destrói também o homem.

6)  o ateísmo prometêico (Prometeu, figura mitológica que roubou o fogo aos deuses para o dar aos homens) pretende fazer do homem o ser supremo; no ateísmo positivo prometêico podemos introduzir outras subdivisões. As mais importantes são as destacadas por H. Küng, na obra Deus existe?:

6.1) o ateísmo humanista, motivado pela defesa da grandeza da pessoa individual;

6.2) o ateísmo político, que visa à defesa dos direitos da sociedade, especialmente das classes mais fracas;

6.3) e o ateísmo científico, que luta pela defesa dos direitos da razão e da ciência.

O ATEÍSMO PRÁTICO é a atitude daqueles que dizem crer, mas na realidade vivem como se não crescessem, numa plena indiferença religiosa e numa vida completamente materialista, desprovida de qualquer compromisso com a Transcendência.

O ATEÍSMO MILITANTE é o ateísmo ativo, até mesmo agressivo, que declara guerra intelectual contra Deus e procura construir uma verdadeira anti-religião e uma aberta antiteologia. Exemplo típico de ateísmo militante era o praticado pelo Estado soviético e pelo chinês. Os objetivos do ateísmo militante são assim expressos num dicionário filosófico publicado na ex-URSS: “O ateísmo procura esclarecer as fontes e as causas do nascimento e da existência das religiões, critica as doutrinas religiosas do ponto de vista de uma visão científica do mundo, explica o papel da religião na sociedade e estuda as formas de superação dos preconceitos religiosos. […] O ateísmo marxista é militante. Ele critica a religião sob todos os pontos de vista e em todas as épocas históricas, indicando as vias e os meios para derrotá-la definitivamente. O ateísmo marxista demonstrou que a derrota total da religião só se tornou possível depois da destruição das raízes sociais desta, no curso da construção comunista”.

Atitudes que apresentam muitas afinidades e, frequentemente, terminam por coincidir com o ateísmo são o agnosticismo e a indiferença religiosa.

Referência

Quem é Deus?, de B. Mondin

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