A fábula dos três operários

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Uma das motivações de muitas pessoas que procuram a filosofia é refletir sobre o sentido da vida. Essa motivação busca responder às perguntas: como viver melhor? Qual o propósito da minha vida?

Pensar sobre o sentido da vida é pensar também sobre nossa finitude. Schopenhauer e Tolstói afirmaram que a questão emerge precisamente do fato de as nossas vidas acabarem com a morte. A crença num Deus pode aliviar essas preocupações, pois se Deus existe deve existir vida após a morte. Assim, muitos procuram uma resposta a essas perguntas na religião, mas nem todos creem na religião. Aí está, então, o recurso à filosofia.

Muitos filósofos defendem que devemos viver em harmonia com o cosmo; outros, com Deus; outros ainda, com a nossa razão.

Mas há aqueles que defendem que se Deus não existe, a vida humana é um absurdo. Perante a ausência de sentido:

1) diz Nietzsche, com o seu niilismo ativo: não ter mais sentido torna-se um convite para criarmos os valores, encontrando novos modos de vida potentes e criadores (transvaloração de todos os valores);

2) diz Sartre, com o seu existencialismo: o homem cria a si mesmo aquilo que ele será (sua existência precede sua essência), e ele cria sem norma transcendente para se guiar. Mas ele não apenas cria; ele está “condenado” a fazê-lo;

3) diz Camus, com o seu absurdismo: a revolta é a saída. O ser humano é chamado para revoltar-se contra a ditadura cega de uma ordem natural, que conduz à morte. A sua revolta consiste em assumir com teimosia a absurdidade, dizendo “sim” a uma tarefa sem sentido.

Se não há sentido no universo, podemos deslocar a nossa procura de sentido para o interior. A vida tem sentido se pudermos ocupar-nos de atividades que achamos serem significativas; de outro modo, não. Podemos pensar em pilares para alcançarmos uma vida boa, como o prazer, o engajamento (fábula dos três operários) e a ampliação de horizontes (melhoramento intelectual, moral etc.).

fábula dos três operários (da obra 7 maneiras de ser feliz, de L. Ferry) relata que um carro precisou parar na estrada por causa de uma obra:

1) Um operário está quebrando pedras com uma pesada marreta, o semblante transfigurado pelo esforço e pela fadiga. “O que o senhor está fazendo?” o motorista o interroga. “Preparando argamassa”, responde o operário, “com chuva ou com vento, um trabalho de burro de carga!” (sem sentido);

2) O sujeito do carro retoma o trajeto e topa com um segundo canteiro de obras, idêntico ao primeiro. Também ali, um homem tritura pedras, só que parece mais sereno. À mesma pergunta, a resposta é diferente: “Sim, este ofício é penoso, é verdade, mas pelo menos permite trabalhar ao ar livre e alimentar a família, o que não é tão ruim assim!” (sentido externo);

3) Nosso condutor parte de novo e encontra um terceiro canteiro. Mesmo trabalho, mesma marreta pesada. Mas, desta vez, o homem exibe uma expressão beatífica, a face iluminada. Intrigado, o motorista repete a pergunta: ” O que o senhor está fazendo? Parece muito feliz!” “Eu?”, responde o infatigável operário. “Estou construindo uma catedral. Isso me esgota, mas me enche de alegria!” (sentido interno).

Em suma, discutir sobre o sentido ou a sua ausência é um tema filosófico. Mas, acreditando ou não nele, algo que devemos fazer sempre é aprender a gostar de nossa rotina (e mudá-la, se necessário), porque assim é mais fácil ter uma vida boa.

Referência Bibliográfica

7 maneiras de ser feliz, de L. Ferry

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