Quem pode ter uma vida de estudos, ou seja, fazer do seu trabalho intelectual sua própria vida?
1) Tanto os que têm todo o seu tempo para se dedicar aos estudos;
2) Como também os que têm ocupações profissionais e reservam para si um tempo para os estudos. A seguir, vou compartilhar alguns ensinamentos presentes no capítulo 1 A vocação intelectual (I. O intelectual é um consagrado), da obra A vida intelectual, de Sertillanges.
Uma vida de estudos não se satisfaz com vagas leituras e pequenos trabalhos dispersos. Exige penetração, continuidade e um trabalho metódico. A vida de estudos é austera e impõe pesadas obrigações. Ela recompensa, mas requer uma dedicação de que poucos são capazes. Os “atletas da inteligência”, como os do esporte, devem prever privações, longos treinamentos e uma tenacidade às vezes sobre-humana.
Muitos desejariam saber. Obter sem pagar é um desejo universal; mas é o desejo de corações covardes e de cérebros enfermos.
Muitas pessoas têm a pretensão de terem uma vida de estudos, mas desperdiçam seus dias e sua força: ou não trabalham e sobra-lhes tempo ou trabalham mal, sem saber como trabalhar e em que lugar querem chegar.
“O gênio é uma longa paciência”, mas uma paciência organizada, inteligente. Não é possível ter uma inteligência extraordinária para se destacar e realizar o que se deseja: o elemento essencial é a energia, a vontade, a garra, o entusiasmo. É como se dá com um trabalhador econômico e fiel a sua tarefa: ele a cumpre, enquanto o inventor (o gênio) é muitas vezes um fracassado e amargurado.
Não é preciso ser gênio; não é preciso ter todo o seu tempo para se dedicar aos estudos. Basta disciplina. A disciplina é uma grande escola: ensina às pessoas de estudo a ampliar suas possibilidades. Coagido, concentra-se mais, aprende o valor do tempo, refugia-se com entusiasmo nessas raras horas em que, cumprido o dever, abraça seu ideal.
Pobre tartaruga laboriosa, não se diverte, persevera, e ao cabo de poucos anos terá ultrapassado a lebre insolente cujo andar desenvolto causava inveja a seu dificultoso caminhar.
Podemos ter tudo contra nós: sem tempo, sem livros, sem ambiente… Mesmo assim, devemos preservar um coração ardente, pois esse tem mais chance de triunfar, mesmo em pleno deserto. O que mais vale é o querer.
Você que tem apenas duas horas por dia, pode comprometer-se e dedicar-se a empregá-las ardentemente. Essas duas horas já são suficientes para uma vida de estudos. Aprenda a administrar esse pouco tempo.
Referência Bibliográfica
A vida intelectual, de Sertillanges