O caminho é quase sempre sem magia e difícil

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Quando estava na graduação de Filosofia de 2003 a 2005, tive pouco contato com Hegel. Ao me aproximar da monografia, até tive vontade de escolhê-lo para ser a teoria de base de minha monografia, mas, ao tentar ler a Fenomenologia do Espírito, logo mudei de ideia e decidi fazer sobre outro tema. Mais para a frente, antes de começar o mestrado, pensei: “é agora que vou tentar estudar esse filósofo tão difícil”. E foi o que fiz, mas confesso que foi com muita dificuldade. No doutorado, continuei utilizando-o como base e diria que até hoje, ao ler alguns trechos de suas obras, continuo achando-o difícil.

Muitas pessoas, observando o sucesso e a felicidade de outras, pensam que elas nasceram predestinadas para fazer o que fazem. Muitos já me falaram o seguinte: “pra você é fácil, porque você tem talento no que você faz”. Não! Nunca foi fácil. Sempre foi algo construído, algo que corri atrás, que trabalhei com muita garra e vontade. Sei que algumas pessoas nascem com certos talentos naturais para algumas atividades, mas sei também que o que mais importa é a garra, é a vontade.

Eu, com certeza, não tenho talento para fazer o que faço. Comecei a ler tarde e nunca fui um bom orador, muito menos um bom escritor. Sempre sofri para fazer isso. Mas sabia o que queria e esse foi um diferencial importante: saber o que se quer. Sabendo, fui atrás e busquei ser o que desejava ser.

O que quero dizer com isso é que você não deve ficar paralisado porque não nasceu para fazer isso ou aquilo, mas você deve se concentrar em algo e buscar a sua melhor versão nisso. Mas você também não deve ser teimoso. Conheço muitas pessoas que só para provar que conseguiriam, se dedicaram anos para uma atividade e, depois de concluírem, mudaram de foco, porque não era o que elas queriam para as suas vidas. É importante aceitar a mudança de planos. E não devemos fazer tal coisa simplesmente para provar que conseguimos, mas devemos fazer porque isso irá agregar no que somos e fazemos, porque é isso que desejamos nos tornar.

O que me ajuda bastante é fazer um breve retiro de vez em quando para poder assimilar o que vivi e preparar novos projetos. Esvaziar o copo para voltar a enchê-lo. Períodos de desconexão com esse mundo tão agitado faz nos voltarmos para nosso interior. Precisamos aprender sempre mais a sermos capazes de guiar nossa sorte. Esperar um milagre ou esperar que a magia ocorra, muitas vezes, nos paralisa. Temos que ser nós os proponentes das mudanças que precisamos ter nas nossas vidas. Temos que ser nós os agentes que irão concretizar os nossos projetos. Não preciso “ter nascido para fazer tal coisa”, mas preciso “saber o que quero e em que lugar quero chegar” e fazer de tudo para alcançar tal estágio.

Sempre nos comparamos com os outros e é aí justamente que está o erro, porque não somos os outros. Somos nós e somos únicos. Pior é quando nos comparamos com os que se destacam muito, como os gênios. Gênio é alguém que nasceu com um dom, um poder de fazer algo ou criar melhor do que ninguém. Portanto, é alguém com capacidade de criar, produzir algo original e que possui uma inclinação natural, uma vocação. Mas, mesmo no caso dessas pessoas que nascem com um talento natural, sem trabalho duro e sem condições externas propícias (porque as oportunidades e a educação são diferentes de pessoa para pessoa), muitos gênios ficam pelo caminho.

O caminho é quase sempre sem magia e difícil. Sem magia porque poucos são os que nascem com um dom e, para a maioria, resta muito trabalho e suor; é difícil, porque além de dependermos de nós, dependemos também dos meios. De nós, porque se não nos esforçarmos, buscando melhorar sempre, estagnamos. Dos meios, porque as pessoas são tratadas de formas diferentes devido sua condição natural e social e, portanto, as circunstâncias de cada são únicas. Nos resta, buscar, por meio de muito trabalho, a melhor versão de nós mesmos.

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“Compreender o que é, esta é a tarefa da filosofia, pois o que não é, é a razão.”
Georg Hegel