O que significa Niilismo?

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Niilismo (do latim nihil: nada) indica uma concepção em que tudo o que é (coisas, mundo, valores, princípios) é negado e reduzido a nada. Segundo Abbagnano, no verbete niilismo do Dicionário de filosofia, a história dos conceito evidencia, porém, diversos significados:

1°) algumas ocorrências esporádicas, com acepções hesitantes, encontram-se sobretudo em tratados teológicos;

2°) o primeiro emprego filosófico específico do termo é registrado entre o fim do século XVIII e o início do século XIX nas controvérsias que caracterizam o nascimento do idealismo alemão;

3°) na Rússia da segunda metade do século XIX o niilismo explode como movimento de rebelião ideológica e social, impondo-se em escala geral;

4°) a teorização principal do niilismo é elaborada por Nietzsche;

5°) o niilismo exerce ampla influência sobre o pensamento do século XX em diversos pensadores, como Jünger, Heidegger, Vattimo, Deleuze, Foucault, Derrida, Habermas, Lyotard, Rorty, Baudrillard, Ciaron e outros. Eles fizeram do niilismo um conceito-chave para a interpretação do cenário cultural de nossos dias.

Uma teorização é a de Nietzsche, que Deleuze sistematizou nas seguintes quatro formas:

1°) Niilismo Negativo: defendido pelo platonismo e pelo cristianismo (e outros dualismos); nega-se o mundo existente em nome de um ideal, de outros valores e cria-se outros mundos para poder suportar este mundo;

2°) Niilismo Reativo: a razão científica reage contra a promessa do paraíso. O sujeito racionalista e iluminista diz: “Deus está morto!” O homem matou a verdade fora deste mundo, mas ainda acredita numa verdade neste mundo: um mundo melhor por vir;

3°) Niilismo Passivo: o niilismo avança e vai esmagando tudo – não há mais deuses, valores e rumo; a religião não salva, a ciência não encontra respostas. O homem está cansado e não tem mais forças nem para pôr fim ao sofrimento. O humanismo fracassou e o homem, cada vez mais doente de si, perde a vontade de afirmar-se;

4°) Niilismo Ativo: o niilista pode voltar a ser um niilista negativo ou reativo ou se tornar um niilista ativo (esse é o niilismo de Nietzsche). Não ter mais sentido torna-se um convite para criarmos os valores, encontrando novos modos de vida potentes e criadores (transvaloração de todos os valores). Assim, superamos o niilismo por ele mesmo.

Portanto, quando falamos em niilismo não podemos achar que estamos falando de algo simples com apenas um sentido. Dependendo da forma de niilismo ou da perspectiva filosófica, o seu significado varia bastante. 

Dessa forma, tendo surgido no século XIX, o conceito serve de base para a análise dos últimos dois milênios de história, cujo processo estaria marcado por variadas atitudes de negação que nos obrigam a falar em niilismos, no plural, como formas diferentes de problematização dessa história cultural.

Jelson Oliveira, na obra Negação e Poder: do Desafio do Niilismo ao Perigo da Tecnologia, resume o niilismo da seguinte forma: poderíamos afirmar que seu sentido mais evidente, já colocado pela etimologia da palavra, é a negação da vida por meio de uma resignação ao nada, solicitada por uma vontade de nada que conduz a uma aniquilação das forças vitais, fato que torna possível a autores, como Nietzsche, Heidegger e Jonas, associarem o conceito a uma “sintomatologia”, ou seja, ao diagnóstico da decadência e de declínio da civilização ocidental, na medida em que suas expressões particulares (morais, religiosas, artísticas e cientificas) constituíram-se a partir de ideais cuja origem e cujo produto foram o pessimismo diante da vida e o enfraquecimento das forças vitais. O niilismo é interpretado, assim, como uma hostilidade em relação ao mundo sensível, seja devido à invenção de mundos suprassensíveis, seja porque esses ideais entraram em crise e conduziram o homem a uma indiferença, em relação ao mundo sensível. Por isso, trata-se de uma negação do mundo, da vida e da cultura em geral.

Referências Bibliográficas

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976.

OLIVEIRA, Jelson. Negação e Poder: do desafio do niilismo ao perigo da tecnologia. Caxias do Sul: EDUCS, 2018.

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