Algo que não escaparemos e que mesmo assim é comum temermos é a morte. O que existe depois disso tudo? Será que continuarei vivendo em outro local? Ou a morte é o fim de tudo e tudo o que me resta são os anos que ainda viverei nesta vida? São muitas as perguntas sem respostas. Eu mesmo me pego pensando bastante sobre isso e, dependendo do momento que estou vivendo, acabo sofrendo com essa sensação de que um dia tudo terminará.
Uma das questões centrais da filosofia é o problema de como se deve encarar a vida para que se possa viver bem.
Segundo Sêneca, viver bem inclui o morrer bem. Na obra Sobre a brevidade da vida, ele disse o seguinte: deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer. A vida é uma espécie de preparação para a morte: uma vez principiada, a vida segue seu curso e não reverterá nem o interromperá, não se elevará, não te avisará de sua velocidade. Transcorrerá silenciosamente, não se prolongará por ordem de um rei, nem pelo apoio do povo. Essa é a inevitabilidade da vida: a sua corrida para a morte. A mortalidade é a marca mais íntima da vida e saber disso é a exigência filosófica mais importante.
Em outra obra intitulada Cartas Consolatórias, Sêneca destaca que nenhum outro porto há, a não ser a morte, para aqueles que navegam neste tão agitado mar. A morte é um consolo diante da agitação da vida, mas não há outro caminho para enfrentá-la a não ser vivendo adequadamente, o que significa, manter-se pronto para quando ela chegar. Aquele que aprender essa lição, não só viverá bem, como poderá, quando a morte chegar, enfrentá-la com dignidade. E isso se alcança tendo sempre consciência de sua inevitabilidade, de sua ameaça constante, de sua evidente possibilidade. A filosofia é, por isso, a disciplina que mais pode ajudar a conquistar uma tal tranquilidade, porque ela nos prepara para a vida boa e, nesse caso, também para a boa morte. Aprender a viver bem é compreender a fragilidade da vida.
Diante da certeza da morte, nos resta aceitá-la de braços abertos, pois de nada adianta lutar contra o inevitável. Somos frágeis e podemos sucumbir a qualquer instante. Não temos sete vidas. Portanto, não tendo controle sobre a quantidade de vida, devemos focar na qualidade. Sabemos que vamos morrer, mas não quando vamos morrer. Isso nos força a viver e buscar, sempre, uma vida bem vivida.
Hoje, consigo pensar sobre a finitude com menos pavor como pensava no passado. No passado, ela me estagnava. Hoje, não mais, porque sei que neste exato momento que estou escrevendo essas linhas, estou vivendo e vivendo com qualidade. Hoje, não busco mais controlar o incontrolável. Não luto mais contra aquilo que sei que vou perder. Escolho minhas lutas e vivo minha vida da melhor maneira possível.
Precisamos viver – e morrer – com dignidade.
Referências Bibliográficas
SÊNECA. Cartas consolatórias. Campinas: Pontes, 1992.
SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. São Paulo: Edipro, 2020.