A filosofia da ciência é o campo da pesquisa filosófica que estuda os fundamentos, pressupostos e implicações filosóficas da ciência, incluindo as ciências naturais como física e biologia, e as ciências sociais, como psicologia e economia. Neste sentido, a filosofia da ciência está intimamente relacionada à epistemologia e à ontologia. A Filosofia da Ciência clássica se desenvolve no séc. XX, e alguns de seus expoentes centrais são Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend.
Segundo Popper, o valor da ciência não está na comprovação experimental das teorias científicas por meio do acúmulo de proposições de observação singulares que confirmem a hipótese, mas na possibilidade de provas experimentais poderem falsear os seus enunciados científicos. Os fatos nunca podem provar positivamente que uma teoria é verdadeira; podem, porém, falseá-la. O que caracteriza o conhecimento científico é essa possibilidade de se provar que uma teoria científica está errada e de se a corrigir ou substituir por outra melhor. O método adotado consiste em identificar os problemas de investigação, que surgem através de dúvidas que não encontram respostas nas teorias vigentes, propondo hipóteses ousadas (quanto mais falseável for uma teoria, mais científica será) e, através de testes experimentais que busquem a falseabilidade e a crítica intersubjetiva (modus Tollens), localizar os possíveis erros dessas hipóteses e teorias. À medida que se vai provando que algumas ideias são falsas, cria-se a necessidade de produzir outras melhores que não contenham as falhas das anteriores. É dessa forma que o conhecimento científico cresce, por um processo de substituição ou renovação de suas teorias, e não pela acumulação de certezas.
Para Kuhn, os cientistas, normalmente, procuram resolver os problemas e desenvolver o potencial de suas teorias e, assim, comprovar que estão corretas e conforme ao paradigma vigente. Mesmo que encontrem alguns casos ou provas falseadoras, custam a abandonar suas teorias. Os fatos, provas e casos novos que conflitam com as teorias vigentes do paradigma tendem a ser ignorados por eles, pois acreditam fortemente que o seu paradigma tem a resposta para os problemas levantados. Somente em casos críticos, quando os problemas se acumulam e viram anomalias (momentos de crise/revolução), é que podem abandonar uma teoria (o paradigma) e a substituir por outra melhor. Os cientistas mudam de paradigma, abandonando-o, apenas quando o novo que surgir for mais forte, não contendo as falhas do anterior e dando-lhes maiores possibilidades explicativas. Em geral, quem funda um novo paradigma são pessoas de fora, isto é, pertencem a outra área de conhecimento. Os cientistas aderem por conversão ou persuasão ao que consideram ser o melhor paradigma para continuar a fazer ciência. O quadro da progressão da ciência pode ser assim descrito: Pré-ciência – ciência normal (paradigma) – crise-revolução – nova ciência normal (paradigma). A ciência não caminha numa via linear, contínua e progressiva, mas por saltos e revoluções.
Um programa de pesquisa é um conjunto de teorias e técnicas utilizadas por uma comunidade científica. Esse termo foi introduzido na filosofia da ciência por Lakatos. Ele defendia a necessidade de um pluralismo teórico, ou seja, a concorrência de programas de pesquisa, mesmo quando conflitantes, é o que move o progresso do conhecimento. Defendia também que uma consequência falsa em alguma previsão de uma teoria não implica na refutação da teoria, mas aponta algum erro de alguma condição específica ou das teorias auxiliares que estão envolvidas nos métodos observacionais. Considerando assim o fato “refutador” como uma anomalia que futuramente será resolvida. Sobre a heurística, ele fala da negativa e da positiva: 1) negativa (hard core ou núcleo firme): determina quais são as ideias perenes, que devem ser consideradas irrefutáveis dentro de um determinado programa de pesquisa. Ex.: a lei da gravitação de Newton no modelo de órbitas do sistema solar; 2) positiva (cinturão protetor): orienta como lidar com as divergências experimentais da teoria; são as hipóteses, aproximações e adições ao núcleo firme que respondem essas divergências, a fim de manter o núcleo firme como referência absoluta.
É preciso abandonar a quimera de que as normas “ingênuas e simplistas” propostas pelos epistemólogos podem explicar o “labirinto de interações” apresentado pela história real. A história em geral e a história das revoluções em particular são sempre mais ricas em conteúdo, mais variadas, mais multilaterais, mais vivas e mais “astutas” do que pode ser imaginado até pelo melhor historiador e pelo melhor metodólogo”. Consequentemente, o anarquismo epistemológico de Feyerabend consiste na tese de que a ideia de um método que contenha princípios estáticos, imutáveis e absolutamente obrigatórios como guia para a atividade científica se defronta com dificuldades consideráveis quando é posta diante dos resultados da pesquisa histórica.
Referências Bibliográficas
FEYERABEND, P. Contra o Método. São Paulo: UNESP, 2007.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1987.
LAKATOS, Imre. História da ciência e suas reconstruções racionais e outros ensaios. Lisboa: Edições 70, 1978.
POPPER, Karl Raimund. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 2013.