Eu não acredito no poder da paixão

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É comum vivermos no automático. Temos tudo planejado. O dia está sempre cheio de atividades. E assim vamos vivendo, sem quase perceber a passagem de um ano para outro. E assim a vida vai passando, numa velocidade assustadora. Tudo o que faço da minha vida, cada mínima escolha, fui eu que decidi que seria assim. Poderia comer massa, mas escolhi arroz e feijão. Poderia ler Platão, mas escolhi Ortega y Gasset. E todas as escolhas, da banal a super importante, me tornaram quem sou. Eu sou aquilo que escolhi ser.

Um dos cernes de O Existencialismo É um Humanismo, de Sartre é a responsabilidade do homem sobre os próprios atos, não cabendo justificar as suas decisões a partir da paixão ou de qualquer força externa. Os valores que orientam nossa vida não têm, pois, fundamento último senão aquele que nós lhes damos por uma decisão livre. Nenhum sistema moral permite prescindir da opção e da responsabilidade diante da opção.

Diz Sartre, em O Existencialismo É um Humanismo: “O existencialista não acredita no poder da paixão. Ele jamais admitirá que uma bela paixão é uma corrente devastadora que conduz o homem, fatalmente, a determinados atos, e que, consequentemente, é uma desculpa. Ele considera que o homem é responsável por sua paixão. O existencialista não pensará nunca, também, que o homem pode conseguir o auxílio de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois considera que é o próprio homem que decifra o sinal como bem entende. Pensa, portanto, que o homem, sem apoio e sem ajuda, está condenado a inventar o homem a cada instante.”

Os três pontos centrais apresentados por Sartre no trecho citado são os seguintes:

1°) Primeiro Sartre figura aqui a hipótese de uma paixão que determina um ato, como por exemplo num ciúme violento que leva ao crime. Ele a rejeita afirmando que, se a hipótese for aceita, a paixão se torna “uma desculpa” e, assim, o homem não seria “responsável”. Sartre opõe a esse “poder da paixão”, no qual o existencialista não acredita, a “responsabilidade”. Não se é ciumento da mesma maneira que se tem os olhos azuis: o ciúme não é em mim uma natureza, mas uma criação.

2°) A seguir, Sartre afirma que não há sinal que oriente o homem. Verdade que se pode, por exemplo, interpretar uma sucessão de acontecimentos como sinal de que não se deve viajar ou um amor frustrado, como sinal de que se deve permanecer solteiro. Para Sartre, o sinal não é obra do destino, mas só sinaliza depois da decifração que o homem faz dele, e ele o decifra “como bem entende”; o sinal é em si mesmo mudo.

3°) Por fim, segue-se que o homem cria a si mesmo aquilo que ele será (sua existência precede sua essência), e ele cria sem norma transcendente para se guiar (ele cria “sem apoio e sem ajuda”). Mas ele não apenas cria; ele está “condenado” a fazê-lo. Mas a liberdade não é uma pena. Por “condenado”, deve-se entender apenas que o homem, em todas as situações, não pode não escolher. É essa a única restrição – necessária – à liberdade. Necessária, pois não se poderia figurar uma situação em que o homem, antes de existir, decidiria entre “ser livre” e “não ser livre”. Desde que se existe, se é necessariamente livre.

“Ser responsável pelo que cada um é”: essa tese exigente tem por primeira consequência uma total responsabilidade, não somente em relação aos nossos atos, mas em relação ao que somos, não só para nós mesmos, mas também para o conjunto dos outros seres humanos.

Referência Bibliográfica

O Existencialismo É um Humanismo, de Sartre

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